Assédio a trabalhadoras de bares: como você tem lidado com isso em seu estabelecimento?

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De acordo com dados da Abrasel e da Confederação Nacional do Comércio (CNC), estima-se que existam 5,5 milhões de trabalhadores no setor de bares e restaurantes e, destes, 55% seja representado por mulheres

“Fui ajudar uma amiga em um bar. Precisei ir até o estoque e, lá, sozinha, fui coagida. Um cara me agarrou e me beijou à força. Fiquei imóvel, sem saber o que fazer. Quando ele me soltou, falou que sempre quis sair comigo. Respondi que estava ali só para trabalhar e que ele estava entendendo as coisas errado.”

Essa é só uma da várias histórias que Stephanie Marink, mixologista e uma das sócias do Espaço 13, localizado no Bexiga, região central de São Paulo, guarda na memória sobre casos de assédio sexual pelos quais já passou em sua experiência de trabalhar em bares.

“Tinha 18 anos quando isso aconteceu. Não tinha noção dessas coisas e de que poderia ter denunciado. Não estávamos no auge das discussões para que eu soubesse que isso poderia ser feito. Hoje, com 33 anos, seria diferente”, ela diz.

Os números confirmam que as experiências de Stephanie são uma realidade para muitas outras mulheres.

Uma pesquisa realizada apenas na cidade de São Paulo pela Rede Nossa São Paulo e publicada em março de 2021 mostrou que 7% das mulheres ainda veem os bares e as casas noturnas como lugares de risco para serem assediadas, só perdendo para o transporte público (52%) e as ruas (20%).

Stephanie não apenas sofreu casos de assédio sexual, como também já presenciou e até evitou que mulheres que frequentam seu balcão passassem por algo do gênero. Como uma vez em que colocou um cliente para fora do seu bar.

“O cara estava sentado na minha frente e disse que precisaria de um favor. Falei ‘claro, como posso te ajudar?’. Ele respondeu que me daria 50 reais para que eu aumentasse as doses de bebida alcoólica no copo de uma menina para que ela ficasse mais louca e saísse com ele. Na hora, educadamente, respondi ‘quero que você se retire agora do meu bar’. E depois, quando vi a menina indo ao banheiro, fui atrás dela para avisar o que tinha acontecido e para que ela tomasse cuidado”, relata.

“Ele foi embora, mas não sem antes ficar me enfrentando, chamando pelo dono do bar. Respondi que eu era a dona e queria que ele saísse imediatamente. Quer dizer, por eu ser mulher e estar servindo não posso ser a proprietária do bar? Isso acontece direto.”

A conquista do balcão de bares pelas mulheres não é algo recente. A primeira a se destacar por seus coquetéis foi a inglesa Ada Coleman, ou Coley, que, no início do século XX e com apenas 24 anos, comandou o bar do icônico Savoy Hotel, em Londres, por duas décadas.

Mesmo com grandes destaques, ainda hoje, os bares e a noite estão relacionados a um trabalho masculino e, consequentemente, a um pensamento muito machista.

Não há números que mostram quantas barmaids comandam balcões pelo país. No entanto, o que é possível afirmar é que o setor de bares e restaurantes tem, em sua maioria, mulheres na operação.

De acordo com dados da Abrasel e da Confederação Nacional do Comércio (CNC), estima-se que existam 5,5 milhões de trabalhadores no setor de bares e restaurantes e, destes, 55% seja representado por mulheres.

Mesmo com a presença feminina dominante na operação, esses espaços ainda são muito hostis para elas, seja por seus corpos como objetos de desejo, seja também pelo questionamento de suas competências, uma vez que sempre é preciso lidar com uma cobrança redobrada de seus trabalhos.

Essa combinação explosiva faz com que elas sejam a linha de frente de muitas experiências que, por vezes, desejavam ficar esquecidas.

Ganhadora de prêmios nacionais e internacionais na coquetelaria, Stephanie tem que constantemente reforçar sua posição.

“No primeiro campeonato do qual participei, tive que escutar de um cara ‘só ganhou porque é mulher’.”

Cantadas e mais cantadas

Comentários desagradáveis são uma constante na vida dessas profissionais. “Escuto direto “nossa, você está muito sexy hoje”.

Esses dias, um cliente já conhecido do bar falou “você poderia fazer Xvídeos para tirar uma grana e ficar pelada fazendo gim tônica”.

Respondi que não concordava que, pelo fato de ser mulher, deveria fazer isso. Como a gente deve agir? Somos habituadas a ficarmos quietas e em uma posição tão oprimida que é difícil saber o que falar.

Acabamos convivendo com essas situações porque, muitas vezes, não se tem escolha”, diz a mixologista.

A importunação com cantadas e propostas inconvenientes também é constante na vida da barmaid Alessa Maga.

Atualmente morando em Lisboa, a carioca de 46 anos já perdeu as contas de quantas vezes ouviu comentários desse tipo. Como tática, ela diz que assume um comportamento mais sério para se proteger.

“Sou muito simpática e, aqui em Portugal especialmente, muitos já confundiram achando que estava dando mole. Por isso fico mais fechada”, diz.

Mesmo assim, as lembranças incômodas de assédio são inúmeras.

“Estava levando os drinks para a mesa de um grupo de homens. Percebi os olhares, cochichos e conversas sobre mim. Depois um deles veio pedir o telefone com a desculpa de que ‘quem sabe eu poderia fazer drinks para ele’. Fiquei desconfortável, falei que não daria o número e sai.”

Outra situação em que Alessa se sentiu incomodada foi quando um homem a esperou do lado de fora do bar para abordá-la na hora em que ela saísse.

“Foi muito ruim. Tive que falar que ele estava se exaltando, que não queria ficar com ele e que não estava entendendo porque me esperava ali.”

A falta de apoio dos chefes e locais onde trabalham a deixam com medo de denunciar. “Às vezes, a gente tem que fingir que não ouviu. Não pode falar na frente do cliente senão perdemos o emprego”, diz.

“O medo é sempre nosso”

Para Carolina Oda, consultora em hospitalidade e bebidas e comunicadora, esse é um dos pontos mais difíceis de se lidar: o medo.

“Nosso mercado é muito pequeno e ainda masculino, todo mundo se conhece. Quem vai comprar uma briga e denunciar um cara que, às vezes, é um dos grandes da área? No final, eles se protegem e a gente briga porque somos nós, mulheres, que sempre precisamos achar um caminho para saber como lidar com esse problema. O medo é sempre nosso.”

Ainda hoje Carolina sente o trauma de um caso de assédio sexual pelo qual passou em uma sessão de massagem em um salão de beleza paulistano. Mesmo com um boletim de ocorrência, seu agressor não foi punido.

“A impunidade é um gatilho muito forte para mim. Sinto exatamente a mesma sensação no corpo de quando fui fazer o B.O. Meu peito fica manchado, os dedos formigam, sinto taquicardia”, diz. Mesmo assim, a consultora reforça a importância de todas as mulheres denunciarem. “É a única possibilidade de fazermos algo para mudar essas situações.”

Ela relembra um caso do começo da carreira, quando era garçonete em um bar de cervejas. “Virei para pegar uma bebida para um cliente e ele falou “isso, vai lá pegar uma cerveja para mim” e deu um tapa na lateral das minhas nádegas. Eu era muito inexperiente naquela época”, conta.

Isso, no entanto, não acontece apenas com clientes, mas também com colegas de profissão. “Um deles, famoso que já se posicionou contra assédios, passou a mão nas minhas nádegas duas vezes. Quando eu vi ele falando uma vez que era contra isso, tive o mesmo gatilho no meu corpo porque nada acontece com essas pessoas. Ele se posiciona como santo e faz outra coisa.”

Em mais um caso do qual Carol se recorda, foi contratada como consultora de um bar em São Paulo e começou a receber mensagens com segundas intenções. “Esse cara que me contratou estava fazendo um curso de fotografia e, certa vez, era uma hora da manhã, ficou me mandando mensagem dizendo para eu ir na casa dele, que queria fazer foto minha.

E ainda completou ‘e vem de fio dental que eu consegui ver, naquela reunião, que você estava usando’. Como ele não conseguiu o que queria, fala mal de mim no mercado. Isso acontece muito em consultoria: contratam o meu trabalho, mas acham que podem sair comigo porque a relação fica mais próxima.”

Reforçando o coro dessas profissionais está a barmaid Luisa Saito, de 24 anos, que trabalha no bar Nu I Cru, na Barra Funda, zona oeste da capital paulistana.

“Para nossa infelicidade, essa é uma área dominada por homens que não entendem o que é ser mulher em um mundo machista. Aprendi a lidar a minha vida toda com isso. Quando algo acontece, sou bem seca, corto na hora e até bato boca ou tiro onda com os caras, dependendo da situação.”

Ela se lembra de uma vez, quando começou a trabalhar na coquetelaria, que tinha receio de ser a única mulher no bar.

“Nessa época, teve uma situação com um cliente que ficou falando com as atendentes, passando a mão nas costas, na cintura, e nenhuma de nós se sentia à vontade para se defender ou avisar algum dos sócios, pensando que não ia adiantar de nada.”

Hoje, isso seria diferente. “Meu lugar de conforto é com o balcão entre eu e o cliente. Pode falar desaforo que a gente rebate, mas não chega perto e muito menos encoste em mim. Se for para trabalhar num bar em que o dono prefira que eu aceite desaforo, principalmente de homem machista, esse não é um lugar onde quero estar. É sobre priorizar a mim e a minha saúde mental. Se tiver que achar outro lugar para trabalhar, a gente corre atrás!”, finaliza.

Fonte: Abrasel

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